Hey! Como eu havia dito, estou estreando uma Web Série aqui no blog. Tenho a intenção de postar ao menos a cada quinze dias, então me cobrem, hein! - rsrs -. Aqui na coluna a direita, vai ter uma caixinha com o título Web Séries e com link para vocês acessarem a página principal e todos os capítulos que irão vir, basta acompanhar ali, okay? É isso aí! Espero que gostem e deixem seus comentários =]]
Arte por: JJCanvas
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Título: As Cinzas da Fênix - Parte I: Morte
Capítulo I
As Montanhas Silenciosas
– Hei, Sarah! Saia de cima deste galho! – Gritou um monge que se aproximava.
– Estou meditando! – Respondi.
– Não! Você está tentando se matar, no mínimo aprontando alguma arte de mal gosto, como é de costume.
– Pare com isto, não sou assim tão ruim.
O monge se aproximou, cabelos cacheados e curto, olhar profundo e porte robusto. Ele esticou a mão em minha direção.
– Vamos, o Mestre quer ver você, hoje é o dia do seu progresso, não estrague tudo.
– Tudo bem, Marim.
Eu estava sobre um galho de uma velha e solitária árvore, que superando todas as expectativas, cresceu na ponta de um penhasco. Seu formato era um tanto esguio, talvez devido a altitude ou sua espécie, mas devo dizer que também era graciosa. Peguei a mão de Marim e juntos nos dirigimos até o monumento central. O monumento ficava no centro da principal montanha de Alra, ele era uma construção de dois andares, de rocha e madeira, possuía uma entrada ampla, com enormes pilastras ornamentadas. Toda a luz do ambiente era artificial, uma vez que o pouco de luz natural que vinha de fora, clareava apenas a entrada da porta principal. Do lado de fora, havia um pequeno jardim todo coberto pela neve. Na primavera era possível ver suas diversas flores enchendo o centro de Alra com cores majestosas. No lado sul do jardim, havia um caminho que dava entre as outras montanhas e seguia até o Pilar de Luz, onde os monges se reuniam para meditar, no lado oeste haviam duas outras construções de menor porte, não muito distante do jardim. Lá era a morada dos monges, e no lado leste estava a passagem para um caminho que levava direto ao lado norte do Bosque Verde. Alra era um lugar pacato, bonito e cercado, seguro.
Adentrei ao monumento, Marim recuou quase dois metros e se manteve a me seguir. Me aproximei da sala principal e vi o Mestre ajoelhado contando histórias para as crianças. Avancei em silêncio, não querendo estragar o momento. Ao chegar na porta, me encostei e relaxei o corpo, me inclinei um pouco para dentro e fiquei ouvindo as palavras do Mestre ecoarem nas paredes junto aos risos das crianças, imaginei logo que ele estivesse narrando suas histórias de período jovial, quando ainda era uma criança, criado numa plantação com seus irmãos, aprontando diversas brincadeiras hilárias para ocupar o tempo, eu já tinha ouvido milhares dessas histórias e não tirava o crédito do Mestre. Por um momento imaginei que talvez fosse este o motivo dele me aturar ali, dele me proteger, talvez ele tivesse sido uma pessoa tão encrenqueira, quanto eu, apesar da diferença de idade, ainda me considero uma criança.
Fiquei o observando por mais alguns minutos quando ele dispensou os pequenos monges, eles se agitaram e saíram rapidamente da sala, uma merecida pausa. Marim ainda estava próximo, tentando entender o que havia deixado as crianças alvoroçadas. O Mestre não demorou para me flagrar na porta, e com um gesto me convidou para entrar.
A sala estava bem iluminada, as paredes refletiam a luz das tochas e davam um ar reconfortante ao ambiente.
– Sabe o quanto o dia de hoje é importante? – Perguntou ele com uma expressão séria, mas ao mesmo tempo sem ser intimidador, logo que me aproximei. Seu olhar era sereno, sua face cansada e seus lábios cobertos por uma longa barba grisalha. Suas mãos estavam com os dedos trançados, como o de costume e ele me encarava com um olhar profundo, como se me estudasse.
– Sim. Eu estava esperando por este dia, faz muito tempo.
– Pois é minha querida, você já não é mais criança, é uma mulher e deve escolher seu caminho. Fico feliz que queira permanecer conosco e se aprofundar em nossa cultura, mas quero que saiba que não deve se prender a nós. Você tem uma vida longa pela frente, deve seguir seu caminho caso sinta que seja o certo, o que podíamos fazer por você, já fizemos.
– Eu quero ficar aqui, Mestre.
– Tudo bem, não se preocupe, apenas não quero que se sinta obrigado a ficar conosco. Você foi um presente que recebemos e estou grato por ver que cresceu com disciplina e sabedoria.
Um conforto se assentou no meu coração, senti vontade de abraçá-lo, mas isto não era o costume dos monges, e como Marim ainda estava nos observando, não achei prudente.
– Eu quero aprender as artes espirituais, quero encontrar o meu eu, quero ter minha viagem astral e quero saber mais sobre minha mãe.
Ele me encarou, relaxando a expressão, por um momento pareceu triste ou deslocado, mas não demorou a responder.
– Tudo no seu devido momento, não sabemos muito, mas por hora, saiba que ela era uma mulher forte, guerreira e te amava.
– Mas se vocês não sabem muito, como pode dizer isto?
– Pois ela deu a vida para te salvar, e pediu para que nós cuidássemos de você. Com o tempo, você terá suas respostas.
– O tempo vem retardando meus desejos desde que eu me lembro.
– A sabedoria não floresce da noite para o dia, e nós não temos todas as respostas.
Eu olhei direto em seus olhos e fiquei sem palavras, não poderia argumentar. Concordei com um gesto, me afastei e me retirei. Eu estava curiosa sobre o passado, mas ninguém poderia me dar mais respostas, até sentia vontade de me arriscar no mundo para descobrir quem era minha mãe, de onde ela vinha, mas não sei se seria o certo ou era apenas um desejo que deveria ser esquecido.
A noite estava para chegar, mas eu podia gastar algum tempo, então despistei Marim e resolvi me aventurar em uma região adorável. Parti pelo lado leste de Alra, atravessei um trecho entre as montanhas e segui por um breve caminho que cortava um pequenino riacho e dava no pé das Montanhas Silenciosas. Acredito ter caminhando uma hora e meia, fiquei feliz ao ver que estava me superando cada vez mais, e aprendendo a poupar tempo. A alguns metros dali estava a entrada para Bosque Verde, continuei caminhando. Ao adentrar o bosque, senti o delicioso cheiro da mata, o verde encheu meus olhos, tirando aquela nostalgia cinza das montanhas. Tirei a bota e lancei sem medo os pés descalços sobre a grama e a terra, fofa como pele, reconfortante, eu estava relaxada. Comecei a caminhar, cada vez que descia até o bosque ia um pouco mais longe, costumava gravar o caminho marcando as árvores com uma pedra afiada, cruzava riscos sobre as cacas, o mais fundo que podia, assim caso a casca velha caísse para dar espaço para a nova, a marca se manteria.
Caminhei mais uns dez minutos até avistar um cervo, ele comia de alguns arbusto não muito distante de onde eu estava. Avancei sorrateira por entre as árvores, tomando cuidado para não espantá-lo. Circundei por um grande e largo tronco, tentando ficar fora da vista do animal e sorrateiramente fui me aproximando. Minha mente estava despreocupada, em breve não teria mais tempo para me divertir, para me distrair, estaria iniciando os estudos de artes espirituais e deveria forcar nisto.
Consegui contornar o cervo e estava cada vez mais próxima, avancei pelo seu lado direito até alcançar o início dos arbustos onde ele estava. Caminhei por dentro deles até chegar a uns quatro ou três metros do animal. Sem movimentos bruscos, fui tomando espaço e saindo do arbusto, notei que o cervo me flagrou e lentamente terminei de me retirar da mata, me ajoelhei diante do animal. Ele me encarou de canto de olho, senti que ele estava curioso, mas pronto para fugir. Lancei vagarosamente minha mão em sua direção e me inclinei levemente, fixei meu olhar ao dele e aguardei.
Primeiro um passo, então levemente veio o segundo, o terceiro e não demorou para ele se aproximar. Caminhava aos poucos, evitando ser brusco, com toda a delicadeza do mundo. Seus olhos grandes e amendoados brilhavam com os raios de luz que cortavam por entre as folhas, sua língua ia constantemente sobre os lábios e de forma sutil, ele abaixava e erguia a cabeça. Parou próximo a um metro de onde eu estava e ficou a me observar.
Sem movimentos súbitos, deslizei meu joelho esquerdo, seguido do direito, me aproximando um pouco mais do animal, ele não demorou a avançar mais um pouco, senti sua respiração calma como o luar, ao contrário da minha que se mantinha forte e intensa devido ao prazer e a adrenalina do momento gracioso. Seu queixo tocou minha mão, e seguido de sua língua ele se aproximou mais e mais. Eu já alisava toda a face do cervo quando meu coração se acalmou. Me levantei e passei a mão pelo pescoço e sob o queixo, ele roçava o focinho no meu peito, alisei sua cabeça e senti uma paz profunda.
Não sei quanto tempo passou, se eu me perdi enquanto tentava me aproximar do animal ou no momento em que o acariciei, mas logo notei que o crepúsculo lançava-se sobre nós, tudo escureceu rápido e eu estaria em apuros se me atrasasse ao voltar para Alra. Me despedi do animal e corri por entre a mata, passei por algumas árvores e pelo riacho. Do pé da montanha, ficaria mais cansativo o caminho, parei antes de adentrá-lo, puxei um pequeno cantil de água que carregava ao meu lado e dei duas goladas profundas, encarei a entrada do trecho a percorrer e avancei. Corri o mais rápido que pude, mas sem deixar de prestar atenção nas fissuras e nos pedaços perigosos. Levei desta vez um pouco mais de tempo do que o normal, a corrida no bosque havia me desgastado mais do que eu previa e quando estava quase chegando ao centro de Alra, meu ritmo diminui drasticamente.
Faltavam poucos metros quando ouvi alguns gritos estranhos, agudos, intensos, gritos desesperadores. Acelerei o passo e cheguei a saída. Meu olhos estalaram, um aperto no meu peito tirou meu fôlego e um clarão vermelho cobriu minha vista. Estava tudo em chamas, do lado oeste ao jardim e o monumento. Corri até o jardim me esquivando das chamas e quando cheguei em frente ao monumento, vi dezenas de corpos, um estirado ao lado do outro. Algumas lágrimas escorreram dos meus olhos, não acreditei no que estava vendo, meu coração acelerou de tal forma que parecia querer sair do meu peito. Um nó travou minha garganta, cai de joelhos e não conseguia gritar.
Ouvi novamente gritos e gargalhas, e do outro lado do jardim fitei diversos homens e o Mestre. Avancei até ele.
– Mestre! – Gritei correndo ao seu encontro.
– Não! Fuja Sarah, fuja! – Um homem o golpeou nas costas, ele caiu de joelhos. Cheguei até ele e o abracei.
– Então, esta é a Fênix? Tanto esforço para morrer assim, seu verme! – Exclamou uma voz poderosa, de tom grave e intimidador. Por cima dos ombros do Mestre eu o espiei. Um homem sobre um cavalo, portando uma roupa de metal brilhante como as estrelas, me encarou e soltou uma gargalhada. – Matem os que restaram, o Clã das Montanhas Silenciosas vai desaparecer de Tomdell, assim como o Clã das Fênix. Finalmente fecharemos este cerco!
– Fuja! – Disse o Mestre com fraqueza na voz.
– Mestre, não! Levante, vamos correr. – Senti um desespero dominar meu corpo. Os soldados riam enquanto eu tentava levanta-lo.
Senti uma dor intensa na cabeça e quando me dei conta, fui arrancada dos braços dele, um homem me puxava pelos cabelos. Ao me afastar, o homem com a roupa brilhante desceu em um pulo do cavalo, atingiu o chão e com um movimento rápido, se ergueu sacando uma lâmina e a cravou na nuca do Mestre. Comecei a gritar, meus olhos não acreditavam no que viram, perdi o controle sobre tudo, tentei combate-los, mas outro homem se aproximou e ajudou os que me seguravam. Todos estavam mortos, Alra estava em chamas e eu estava sozinha.
– Esses desgraçados mereceram, nada vai me impedir, eu sou o soberano de Tomdell, e não é uma profecia patética que irá mudar isto! – Ele se aproximou e parou na minha frente. – Eles não disseram que a Fênix ressurgiria? Podiam estar certos, mas agora vamos garantir que essa raça seja extinta de uma vez por todas!
Os soldados gritaram salvando as palavras do seu líder. Eu não compreendia suas intenções, estava tomada pela fúria. Em um momento de distração dos soldados, consegui golpear o que segurava em meus ombros, dei as costas, mas antes que pudesse correr, fui arremessada para trás, senti o impacto seco contra o chão.
– Você não vai a lugar algum! – O líder me puxou pelo pescoço e me ergueu. Tentei golpeá-lo, mas meu soco não causou efeito. – Vá para o inferno! – Exclamou ele. Me soltou, senti meu corpo amolecer, mas antes de despencar, uma sensação congelante se espalhou no meu pescoço, minha respiração ficou ofegante e quando senti meus joelhos tocarem o chão, atordoei. Levei as mãos até meu pescoço e elas rapidamente se encharcaram de sangue. Lutei para não me afogar, em meio ao desespero, mas logo uma dor intensa atingiu meu peito, meus braços fraquejaram e despencaram junto ao meu corpo. Lentamente eu cai, tive um breve vislumbre do luar, macio, convidativo, vermelho sangue, e minha vista foi ficando embaçada. O meu agressor se abaixou, me encarando e sorriu. Senti a dor se intensificando quando ele retirou a adaga que estava presa no meu peito, ele a levou até os lábios e pude flagrar sua língua correndo sobre a lâmina manchada de sangue.
Eu não conseguia mais respirar, aos poucos a visão foi falhando e logo, tudo estava escuro, como a noite, como o nada, vazio, eu estava morta.
> Capítulo II
– Estou meditando! – Respondi.
– Não! Você está tentando se matar, no mínimo aprontando alguma arte de mal gosto, como é de costume.
– Pare com isto, não sou assim tão ruim.
O monge se aproximou, cabelos cacheados e curto, olhar profundo e porte robusto. Ele esticou a mão em minha direção.
– Vamos, o Mestre quer ver você, hoje é o dia do seu progresso, não estrague tudo.
– Tudo bem, Marim.
Eu estava sobre um galho de uma velha e solitária árvore, que superando todas as expectativas, cresceu na ponta de um penhasco. Seu formato era um tanto esguio, talvez devido a altitude ou sua espécie, mas devo dizer que também era graciosa. Peguei a mão de Marim e juntos nos dirigimos até o monumento central. O monumento ficava no centro da principal montanha de Alra, ele era uma construção de dois andares, de rocha e madeira, possuía uma entrada ampla, com enormes pilastras ornamentadas. Toda a luz do ambiente era artificial, uma vez que o pouco de luz natural que vinha de fora, clareava apenas a entrada da porta principal. Do lado de fora, havia um pequeno jardim todo coberto pela neve. Na primavera era possível ver suas diversas flores enchendo o centro de Alra com cores majestosas. No lado sul do jardim, havia um caminho que dava entre as outras montanhas e seguia até o Pilar de Luz, onde os monges se reuniam para meditar, no lado oeste haviam duas outras construções de menor porte, não muito distante do jardim. Lá era a morada dos monges, e no lado leste estava a passagem para um caminho que levava direto ao lado norte do Bosque Verde. Alra era um lugar pacato, bonito e cercado, seguro.
Adentrei ao monumento, Marim recuou quase dois metros e se manteve a me seguir. Me aproximei da sala principal e vi o Mestre ajoelhado contando histórias para as crianças. Avancei em silêncio, não querendo estragar o momento. Ao chegar na porta, me encostei e relaxei o corpo, me inclinei um pouco para dentro e fiquei ouvindo as palavras do Mestre ecoarem nas paredes junto aos risos das crianças, imaginei logo que ele estivesse narrando suas histórias de período jovial, quando ainda era uma criança, criado numa plantação com seus irmãos, aprontando diversas brincadeiras hilárias para ocupar o tempo, eu já tinha ouvido milhares dessas histórias e não tirava o crédito do Mestre. Por um momento imaginei que talvez fosse este o motivo dele me aturar ali, dele me proteger, talvez ele tivesse sido uma pessoa tão encrenqueira, quanto eu, apesar da diferença de idade, ainda me considero uma criança.
Fiquei o observando por mais alguns minutos quando ele dispensou os pequenos monges, eles se agitaram e saíram rapidamente da sala, uma merecida pausa. Marim ainda estava próximo, tentando entender o que havia deixado as crianças alvoroçadas. O Mestre não demorou para me flagrar na porta, e com um gesto me convidou para entrar.
A sala estava bem iluminada, as paredes refletiam a luz das tochas e davam um ar reconfortante ao ambiente.
– Sabe o quanto o dia de hoje é importante? – Perguntou ele com uma expressão séria, mas ao mesmo tempo sem ser intimidador, logo que me aproximei. Seu olhar era sereno, sua face cansada e seus lábios cobertos por uma longa barba grisalha. Suas mãos estavam com os dedos trançados, como o de costume e ele me encarava com um olhar profundo, como se me estudasse.
– Sim. Eu estava esperando por este dia, faz muito tempo.
– Pois é minha querida, você já não é mais criança, é uma mulher e deve escolher seu caminho. Fico feliz que queira permanecer conosco e se aprofundar em nossa cultura, mas quero que saiba que não deve se prender a nós. Você tem uma vida longa pela frente, deve seguir seu caminho caso sinta que seja o certo, o que podíamos fazer por você, já fizemos.
– Eu quero ficar aqui, Mestre.
– Tudo bem, não se preocupe, apenas não quero que se sinta obrigado a ficar conosco. Você foi um presente que recebemos e estou grato por ver que cresceu com disciplina e sabedoria.
Um conforto se assentou no meu coração, senti vontade de abraçá-lo, mas isto não era o costume dos monges, e como Marim ainda estava nos observando, não achei prudente.
– Eu quero aprender as artes espirituais, quero encontrar o meu eu, quero ter minha viagem astral e quero saber mais sobre minha mãe.
Ele me encarou, relaxando a expressão, por um momento pareceu triste ou deslocado, mas não demorou a responder.
– Tudo no seu devido momento, não sabemos muito, mas por hora, saiba que ela era uma mulher forte, guerreira e te amava.
– Mas se vocês não sabem muito, como pode dizer isto?
– Pois ela deu a vida para te salvar, e pediu para que nós cuidássemos de você. Com o tempo, você terá suas respostas.
– O tempo vem retardando meus desejos desde que eu me lembro.
– A sabedoria não floresce da noite para o dia, e nós não temos todas as respostas.
Eu olhei direto em seus olhos e fiquei sem palavras, não poderia argumentar. Concordei com um gesto, me afastei e me retirei. Eu estava curiosa sobre o passado, mas ninguém poderia me dar mais respostas, até sentia vontade de me arriscar no mundo para descobrir quem era minha mãe, de onde ela vinha, mas não sei se seria o certo ou era apenas um desejo que deveria ser esquecido.
A noite estava para chegar, mas eu podia gastar algum tempo, então despistei Marim e resolvi me aventurar em uma região adorável. Parti pelo lado leste de Alra, atravessei um trecho entre as montanhas e segui por um breve caminho que cortava um pequenino riacho e dava no pé das Montanhas Silenciosas. Acredito ter caminhando uma hora e meia, fiquei feliz ao ver que estava me superando cada vez mais, e aprendendo a poupar tempo. A alguns metros dali estava a entrada para Bosque Verde, continuei caminhando. Ao adentrar o bosque, senti o delicioso cheiro da mata, o verde encheu meus olhos, tirando aquela nostalgia cinza das montanhas. Tirei a bota e lancei sem medo os pés descalços sobre a grama e a terra, fofa como pele, reconfortante, eu estava relaxada. Comecei a caminhar, cada vez que descia até o bosque ia um pouco mais longe, costumava gravar o caminho marcando as árvores com uma pedra afiada, cruzava riscos sobre as cacas, o mais fundo que podia, assim caso a casca velha caísse para dar espaço para a nova, a marca se manteria.
Caminhei mais uns dez minutos até avistar um cervo, ele comia de alguns arbusto não muito distante de onde eu estava. Avancei sorrateira por entre as árvores, tomando cuidado para não espantá-lo. Circundei por um grande e largo tronco, tentando ficar fora da vista do animal e sorrateiramente fui me aproximando. Minha mente estava despreocupada, em breve não teria mais tempo para me divertir, para me distrair, estaria iniciando os estudos de artes espirituais e deveria forcar nisto.
Consegui contornar o cervo e estava cada vez mais próxima, avancei pelo seu lado direito até alcançar o início dos arbustos onde ele estava. Caminhei por dentro deles até chegar a uns quatro ou três metros do animal. Sem movimentos bruscos, fui tomando espaço e saindo do arbusto, notei que o cervo me flagrou e lentamente terminei de me retirar da mata, me ajoelhei diante do animal. Ele me encarou de canto de olho, senti que ele estava curioso, mas pronto para fugir. Lancei vagarosamente minha mão em sua direção e me inclinei levemente, fixei meu olhar ao dele e aguardei.
Primeiro um passo, então levemente veio o segundo, o terceiro e não demorou para ele se aproximar. Caminhava aos poucos, evitando ser brusco, com toda a delicadeza do mundo. Seus olhos grandes e amendoados brilhavam com os raios de luz que cortavam por entre as folhas, sua língua ia constantemente sobre os lábios e de forma sutil, ele abaixava e erguia a cabeça. Parou próximo a um metro de onde eu estava e ficou a me observar.
Sem movimentos súbitos, deslizei meu joelho esquerdo, seguido do direito, me aproximando um pouco mais do animal, ele não demorou a avançar mais um pouco, senti sua respiração calma como o luar, ao contrário da minha que se mantinha forte e intensa devido ao prazer e a adrenalina do momento gracioso. Seu queixo tocou minha mão, e seguido de sua língua ele se aproximou mais e mais. Eu já alisava toda a face do cervo quando meu coração se acalmou. Me levantei e passei a mão pelo pescoço e sob o queixo, ele roçava o focinho no meu peito, alisei sua cabeça e senti uma paz profunda.
Não sei quanto tempo passou, se eu me perdi enquanto tentava me aproximar do animal ou no momento em que o acariciei, mas logo notei que o crepúsculo lançava-se sobre nós, tudo escureceu rápido e eu estaria em apuros se me atrasasse ao voltar para Alra. Me despedi do animal e corri por entre a mata, passei por algumas árvores e pelo riacho. Do pé da montanha, ficaria mais cansativo o caminho, parei antes de adentrá-lo, puxei um pequeno cantil de água que carregava ao meu lado e dei duas goladas profundas, encarei a entrada do trecho a percorrer e avancei. Corri o mais rápido que pude, mas sem deixar de prestar atenção nas fissuras e nos pedaços perigosos. Levei desta vez um pouco mais de tempo do que o normal, a corrida no bosque havia me desgastado mais do que eu previa e quando estava quase chegando ao centro de Alra, meu ritmo diminui drasticamente.
Faltavam poucos metros quando ouvi alguns gritos estranhos, agudos, intensos, gritos desesperadores. Acelerei o passo e cheguei a saída. Meu olhos estalaram, um aperto no meu peito tirou meu fôlego e um clarão vermelho cobriu minha vista. Estava tudo em chamas, do lado oeste ao jardim e o monumento. Corri até o jardim me esquivando das chamas e quando cheguei em frente ao monumento, vi dezenas de corpos, um estirado ao lado do outro. Algumas lágrimas escorreram dos meus olhos, não acreditei no que estava vendo, meu coração acelerou de tal forma que parecia querer sair do meu peito. Um nó travou minha garganta, cai de joelhos e não conseguia gritar.
Ouvi novamente gritos e gargalhas, e do outro lado do jardim fitei diversos homens e o Mestre. Avancei até ele.
– Mestre! – Gritei correndo ao seu encontro.
– Não! Fuja Sarah, fuja! – Um homem o golpeou nas costas, ele caiu de joelhos. Cheguei até ele e o abracei.
– Então, esta é a Fênix? Tanto esforço para morrer assim, seu verme! – Exclamou uma voz poderosa, de tom grave e intimidador. Por cima dos ombros do Mestre eu o espiei. Um homem sobre um cavalo, portando uma roupa de metal brilhante como as estrelas, me encarou e soltou uma gargalhada. – Matem os que restaram, o Clã das Montanhas Silenciosas vai desaparecer de Tomdell, assim como o Clã das Fênix. Finalmente fecharemos este cerco!
– Fuja! – Disse o Mestre com fraqueza na voz.
– Mestre, não! Levante, vamos correr. – Senti um desespero dominar meu corpo. Os soldados riam enquanto eu tentava levanta-lo.
Senti uma dor intensa na cabeça e quando me dei conta, fui arrancada dos braços dele, um homem me puxava pelos cabelos. Ao me afastar, o homem com a roupa brilhante desceu em um pulo do cavalo, atingiu o chão e com um movimento rápido, se ergueu sacando uma lâmina e a cravou na nuca do Mestre. Comecei a gritar, meus olhos não acreditavam no que viram, perdi o controle sobre tudo, tentei combate-los, mas outro homem se aproximou e ajudou os que me seguravam. Todos estavam mortos, Alra estava em chamas e eu estava sozinha.
– Esses desgraçados mereceram, nada vai me impedir, eu sou o soberano de Tomdell, e não é uma profecia patética que irá mudar isto! – Ele se aproximou e parou na minha frente. – Eles não disseram que a Fênix ressurgiria? Podiam estar certos, mas agora vamos garantir que essa raça seja extinta de uma vez por todas!
Os soldados gritaram salvando as palavras do seu líder. Eu não compreendia suas intenções, estava tomada pela fúria. Em um momento de distração dos soldados, consegui golpear o que segurava em meus ombros, dei as costas, mas antes que pudesse correr, fui arremessada para trás, senti o impacto seco contra o chão.
– Você não vai a lugar algum! – O líder me puxou pelo pescoço e me ergueu. Tentei golpeá-lo, mas meu soco não causou efeito. – Vá para o inferno! – Exclamou ele. Me soltou, senti meu corpo amolecer, mas antes de despencar, uma sensação congelante se espalhou no meu pescoço, minha respiração ficou ofegante e quando senti meus joelhos tocarem o chão, atordoei. Levei as mãos até meu pescoço e elas rapidamente se encharcaram de sangue. Lutei para não me afogar, em meio ao desespero, mas logo uma dor intensa atingiu meu peito, meus braços fraquejaram e despencaram junto ao meu corpo. Lentamente eu cai, tive um breve vislumbre do luar, macio, convidativo, vermelho sangue, e minha vista foi ficando embaçada. O meu agressor se abaixou, me encarando e sorriu. Senti a dor se intensificando quando ele retirou a adaga que estava presa no meu peito, ele a levou até os lábios e pude flagrar sua língua correndo sobre a lâmina manchada de sangue.
Eu não conseguia mais respirar, aos poucos a visão foi falhando e logo, tudo estava escuro, como a noite, como o nada, vazio, eu estava morta.
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