Nota: Como prometido, este é o segundo capítulo da Web Série 'As Cinzas da Fênix'. Espero que você que está acompanhando esteja gostando e quem ainda não leu o primeiro capítulo, é só clicar aqui. E lembre-se, qualquer coisa que esteja errado, entre em contato por E-mail para que possa ser corrigido, colabore. A ideia era uma postagem a cada 15 dias, mas como os capítulos estão fluindo bem, já se preparem, dia 10/05 tem o terceiro capítulo. Deixei também duas músicas que me inspirei enquanto escrevia, quem quiser pode acompanhar a leitura ouvindo-as, os players estão disponíveis é só dar play!
Boa leitura a todos e obrigado pela sua atenção! Deixe seus comentários! <3

Arte por: uALL


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Título: As Cinzas da Fênix - Parte I: Morte

Capítulo II

O Primeiro Voo



O mundo havia acabado para mim, o silêncio fez aquele momento durar uma eternidade, nada havia ali, onde eu estava, fosse lá onde eu estivesse, tudo distorcido, uma realidade deturpada, uma queda infindável em um buraco que acabaria num vácuo, solitário, mórbido. A dor se dissipou, mas meus sentidos estavam entorpecidos, pensei estar com os olhos abertos, quando senti a necessidade de um esforço para realmente abri-los, uma luz fraca e distante se acendeu. Minha audição aos poucos captava pequenos ruídos e dentro de mim, fundo no meu peito, eu sentia um fervor me consumindo aos poucos. A realidade já não era o que deveria ser, e se ela existia ali, eu não a reconhecida de forma alguma.

Lentamente minha visão ia clareando, senti toques seguidos e espalhados pelo meu corpo, toques pesados e intensos, eles escorriam sobre minha pele, era a chuva, gotas abençoadas para cessar aquele inferno vermelho que contaminava meus pensamentos, tudo em chamas. Meu coração, que até então estava em um ritmo mórbido, acelerou de repente, senti o fluxo do meu sangue disparar pelo meu corpo, uma excitação tomou conta de mim e meus lábios começaram a formigar. De olhos abertos, a vista já estava recuperada, mas eu sentia ir muito além do que já fora um dia. Pude ver o céu se clareando em pequenos momentos com lampejos elétrico que corriam por entre as nuvens carregadas donde despencava a chuva, e escondida, dando as caras sutilmente em momentos oportunos entre as nuvens, estava a lua, formosa, cheia, brilhante, deslumbrante.

Mais uma vez uma ansiedade agarrou-se a mim, agora meu coração parecia um suicida se jogando contra meu peito, veloz, insaciável, incontrolável. Ainda não conseguia sentir o resto do corpo, mas aos poucos o formigamento foi se espalhando por tudo.

– Empurrem todos para a fogueira! – Gritou uma voz distante, minha audição estava se recuperando.

– Andem logo! Não quero ficar mais aqui, estou cansado deste lugar frio! – Outra voz anunciava em um tom irritado.

– Peguem a mulher, joguem-na na fogueira! – Ordenou outro homem.

Um calafrio correu de ponta a ponta na minha espinha, senti os homens se aproximando e uma agonia me açoitou. Eles pegaram firme em meus pés e começaram a me arrastar, neste momento, meu corpo todo já formigava.

Agarraram meus braços e me ergueram, e com um balanço fui arremessada no ar, sem movimentos, mas por algum motivo, ainda viva. Um vento forte se chocou contra meu corpo, como se os ventos tentassem impedir aquela atrocidade, mas não foram o bastante. Em questão de segundos, eu estava me chocando contra as madeiras queimadas e as que ainda crepitavam com a fogueira incontrolável.

Calor, nada mais do que reconfortante. Não me senti queimar, não me senti morrer, não me senti abandonada. Meus músculos lentamente começaram a responder, mas a ansiedade, no mesmo ritmo, empurrava o meu consciente para o lado oculto da minha mente. Sem perceber, meu corpo se deslocou e aos poucos levantava-se, fora do meu controle. Parei em meio a fogueira, com o corpo nu, minha vista captava, minha mente digeria, mas eu não possuía influência sobre aquilo.

Flagrei minhas mãos incendiarem, as chamas fluíam com uma energia sinistra.

– Olhem! – Gritou um homem. Logo todos voltaram a atenção para mim. Imaginei que muitos dos que estavam lá tempos antes, já haviam partido, assim como o líder, mas notei que ainda haviam muitos soldados presentes.

“Ela é uma bruxa!”, “Matem-na!”, “Corram!”, “É um demônio!”, foram algumas das declarações aterrorizadas naquele instante. Os soldados se aglomeraram, ficaram a observar curiosos, descrentes e intimidados. Meu corpo se deslocou por entre as chamas, saindo da fogueira com leves toques do calcanhar a ponta dos dedos no chão. Alguns soldados se espalharam ao meu redor, os mais supersticiosos tropeçaram ao fugir, e os que se achavam bravos, estava assinando sua sentença de morte.

Uma paz vibrou no meu interior, senti uma simetria perfeita com o inconsciente e quando o primeiro homem avançou sobre mim, o consciente e o inconsciente agiram juntos, agarrei-o ainda enquanto se deslocava no ar após o pulo. Minha mão se envolveu em seu pescoço, em chamas, e lentamente derreteu sua pele, secou seu sangue e carbonizou seu osso, com gritos de uma dor intensa o bastante para perturbar a todos que observavam.

Mais deles avançaram, agora furiosos. Os descrentes do fato que acompanhavam, puseram-se a correr, e os bravos se organizavam para seguir com o próximo ataque. Vários me cercaram, apontaram suas lanças e escudos e começaram a me sufocar. As chamas que vibravam em minhas mãos se atiçaram, o fogo começou a crescer e se espalhar. Um ataque súbito foi deslocado em minha direção, sem esforços apontei a mão em direção aos homens e uma lavareda de fogo ardeu e correu do meio da fogueira sobre meu corpo e seguindo meu braço até minha mão, foi deslocada sobre os escudos explodindo-os em chamas, corroendo as lanças e queimando as carnes.

Os homens que observavam, bravos guerreiros, se enfezaram, e com gritos e comandos se juntaram aos que temiam o próximo ataque. Todos avançaram juntos, em meio a gritos de desespero, dúvida e medo. Os corpos se aproximavam rápido quando uma explosão de excitação vazou do meu peito para todos meus membros, subitamente meu corpo se incendiou de forma massiva, abri meus braços descontroladamente e senti meu corpo se deslocar do chão, pairei por um breve instante e quando meu dei conta, a imagem da morte em chamas estava sendo absorvida pelos olhos daqueles homens condenados, e em seguida, estes mesmos olhos queimaram com a onda de fogo que cobria a todos, destruindo-os, em uma dança doce de vingança.

Minha mente se apagou novamente, meu coração desacelerou até alcançar um ritmo normal, um zumbido estranho poluía meus ouvidos e tive uma sensação de dificuldade para respirar. Abri os olhos, a chuva havia cessado e eu nem ao menos notei, mais suave do que antes, minha cabeça doía, tentei relembrar exatamente o que havia acabado de acontecer, mas nada me vinha a mente além de fragmentos aleatórios.

A ansiedade foi substituída por dúvida e angústia, notei que havia neve caindo novamente, as fogueiras estava apagadas mas um cheiro estranho perdurava no ar. Com dificuldade me levantei e estranhei por estar nua e não sentir o frio que deveria acompanhar a neve. Lentamente observei ao redor, e não havia nada além da noite, flagrei pequenos detalhes do monumento escurecido, os corpos haviam todos sumidos e um silêncio se instalou novamente sobre as montanhas de Alra.

Levei a mão ao rosto e cobri os olhos tentando raciocinar. Naquele instante nada fez sentido, quando voltei a olhar o ambiente, um pequeno feixe da luz que vinha da lua, atravessou as nuvens e clareou parte do que antes era o jardim, mas agora estava coberto por uma camada clara do que não era neve, e sim cinzas.

Não havia mais nada ali, eu conseguia sentir o peso das almas dos monges que se perdiam no mundo espiritual buscando encontrar a paz, o conforto, o paraíso, e entre eles, as almas dos eternos pecadores, os quais eu havia destruído, buscando fugir para longe evitando o castigo do inferno.

Eu havia condenado vidas, mas estava aliviada. Minha mente ainda entorpecida tentava se estabilizar, mas eu me senti em guerra dentro de mim mesma, tentando compreender quem estava no controle agora. Me restava apenas o vazio. Caminhei para o trecho entre as montanhas, sem saber onde estava pisando, com o corpo amortecido e tentando apenas chegar a algum lugar, com uma falsa esperança de que algo ou alguém me salvaria, retiraria de mim aquela agonia.

Atravessei as montanhas aos tropeços, minha boca estava seca, meu corpo extremamente exausto e minha mente em pedaços. Cheguei a entrada do Bosque Verde, e uma tranquilidade esquisita me reconfortou, adentrei a mata em meio a escuridão e após alguns passos, cai de joelhos, em seguida despenquei por inteira e mais uma vez, a consciência me abandonou.

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