Croqui
As janelas abertas preenchiam o quarto. Não existia mais a escuridão, apenas vestígios dóceis. Próximo a uma parede, estava ela. Agachada e observadora, a menina. A luz refletia com afinco em sua camisa branca, cortada pela pressão das alças do suspensório. A luz refletia fosca em sua calça preta de costuras rasas, e brilhava sobre seu sapato.
O som da ponta do lápis em sua mão ecoava pelo quarto, e os traços corriam vorazes e inspirados sobre as folhas em seu colo. Seus olhos brilhavam por detrás de seus óculos rústicos, e tudo ali estava em perfeita harmonia - só quebrada quando seu sorriso se espalhava e criava um novo clímax a todo o cenário.
Do lado de fora o vento estava quieto, como se quisesse interpretar o som dos traços sobre o papel, tentado ler o desenho que surgia. Ela observava um detalhe a sua frente. Sobre o piso de madeira havia um armário de madeira, e nele, uma chave suspensa que resplandecia com um êxtase viril. O detalhe. O apogeu do desenho, da observação.
Por um segundo o tempo parou. Quando a menina se deu conta, já fazia parte da ilustração.