Há muito tempo, em um lugar não tão distante, havia uma Fera. Possuía o corpo coberto por pelos escuros e olhos negros como a noite. Passava seus dias em estado agoniante, o mundo era pequeno para ela, sua mente estava lotada e exausta, e não conseguia mais dormir, por vezes, mal sabia distinguir a realidade da ilusão. Perdera peso rapidamente, pois a insônia consumia seu descanso e lhe privava da fome. Seu coração parecia uma tempestade em alto mar, confuso, negro, solitário, agitado.
Durante uma noite fria, a Fera caminhava perdida em seus pensamento infindáveis. Seus passos eram rasos sobre a neve acumulada da nevasca que se seguia, a visão estava embaçada, e ela sentia a morte por perto, mas não importava, quem sabe era isto que, lá no fundo, ela buscava. Após alguns montantes de passos dados, em meio ao tapete branco que preenchia sua vista, ela flagrou o inesperado, uma Rosa, de um tom vermelho vivo, que destacava-se no ambiente. A pobre flor era surrada pelo vento e atacada pela neve. A Fera a observou atentamente, tentando entender donde vinha aquela força... Mas não conseguiu, e rumou para casa.
Noutro dia, a Fera caminhou novamente pelo vale, a nevasca desistira daquele lugar, e acabou deixando para trás um véu branco cobrindo todas as superfícies a ela exposta. Em meio a caminhada, avistou de longe um detalhe vermelho, aproximou-se e reconheceu a Rosa guerreira, ela estava lá, em pé e forte. A Fera se aproximou e seus olhos brilharam, ela ficou abismada com tamanha beleza. E de certa forma, a Rosa retribuiu, inclinando-se em direção a seu admirador e dando mais vivacidade ao seu vermelho.
A Fera abaixou-se, e então tentou tocá-la, mas notou o quão frágil era a Rosa e não conseguiu continuar. Mas mesmo sem poder tocar aquela flor majestosa, a Fera retornava ao vale todos os dias, e passava horas a observado, e a Rosa, por sua vez, retribuía o carinho, oferecendo seu doce cheiro e preenchendo os olhos alheios com toda sua forma e cor. E ali, um elo aflorou, e não pararia de crescer.
Com o tempo, a impossibilidade do contato entre os novos amantes estava se tornando um incômodo. Em uma noite, a Fera, em meio a crises intensas de ansiedade, perdeu-se em pensamentos e sentimentos ruins, e a solidão bateu forte em seu peito, lhe trazendo a fúria e apagando qualquer sentimento quente e bom que um dia existiu ali. Ela saiu desesperada e foi até o vale. Ao chegar lá, avistou a flor e avançou violentamente sobre ela, enquanto gritava: “Por quê!?”
Quando a Fera estava prestes a tocar sua amada e destruí-la, algo dentro, no fundo do seu coração atormentado, a impediu. Ela então jogou-se ao lado da Rosa, e ardidas lágrimas escorreram queimando sua face, lhe trazendo a dor do arrependimento e da confusão, e até mesmo sua amada flor chorou naquela noite.
As horas passaram e o dia nasceu, a Fera abriu os olhos, com dificuldades, e notou que a Rosa a observava, e estranhamente parecia alegre.
“O que houve? Me perdoe, por favor, me perdoe!”
Exclamou a Fera desnorteada pelo ato de outrora. A Rosa então curvou-se sutilmente para seu amante, o ventou soprou suave, acalentando as pétalas vermelhas, mais vivas do que jamais estiveram, e uma delas se soltou. A pétala foi carregada pelo vento até que caiu sobre a face da Fera, que de imediato arregalou os olhos e sentiu algo novo, algo quente que se ascendeu dentro de si, e aquele toque, tão aguardado, jamais seria esquecido.
A Fera olhou emocionado para a Rosa, compartilhando aquele indestrutível amor, e ali selaram seus sentimentos, e a Fera compreendeu que não importava como fosse ou de que maneira fosse, ela queria estar ali, ao lado da sua amada, da flor que tomara seu coração, excitara seu interesse e surpreendera seu destino.
Comentários
Mari Mari ():
Albuquerque ():
Esse texto é uma ilustração de uma paixonite que tive há uma semana rs Hilário, não? Mas enfim, algo de bom deveria sair, e saiu o texto. Fico feliz que tenha gostado querida *.* rs
xoxo
Anônimo ():
Beijos ♥
{wakin-g.blogspot.com}
Albuquerque ():